19.3.07

Eu e as baratas

Esta cidade anda infestada de baratas. Repleta delas que rastejam e me causam asco e se eu tivesse um pouco mais de fé, pediria a Deus que as retirasse do meu caminho - malditas baratas nojentas e cascudas. Sim, porque ando com vergonha de Deus: poucos são os que assumiriam, mas já se vão alguns anos que eu não faço uma oração ao me deitar. Simplesmente deito e penso e durmo.

Voltando às baratas, estas linhas perdidas são sobre elas. Elas que têm me acompanhado incessantemente todas as noites até o caminho de casa, e têm sido minha única, silenciosa e asquerosa companhia. Por todo caminho, malditas baratas. Por todo caminho as estrelas longínquas e as malditas baratas. E me pergunto o que pensaria Deus se eu fizesse uma oração agora e pedisse para me ver livre das baratas. Riria ele em sua máxima e esplêndida magnitude? Ou deixaria apenas de lado para poder dar mais atenção e urgência a pedidos de beatas fervorosas e mais presentes do que eu?

Se eu fosse hipócrita, choraria agora. Mas eu não sou. E para falar a verdade, já tive até vontade de mastigar uma delas, para sentir em meu mais profundo âmago que gosto tem ser uma barata - que gosto teria suas tripas e miolos juntos. Depois vomitaria como nunca na vida. Vomitaria até pensar que a vida está se esgotando. E depois dormiria, e abriria os olhos para ver a vida começando de novo. Mas em contrário, na covardia de as enfrentar, esquivo os pés para não esmagar nenhuma delas e não sujar os sapatos nem tão novos que uso todo dia.

Talvez um dia eu coma uma.