24.12.07

Espera

Os dias se tornam supressivos quando eles parecem adquirir o formato de infindáveis. E é desgastante. Desgostoso, penoso, ardoroso. A goela seca, e o amargume se faz presença fixa: inicia-se um doer de respirar, como sente um bicho ferido, atônito pela aflição do querer que o fim de fato chegue e disperse de vez a agonia do momento.
É quase ineficaz descrever o momento da espera, esse sentimento de infinita demora.
A espera seria talvez uma delonga, uma tardança.
Uma esperança, mesmo que mínima; uma expectativa de que algo aconteça.
Mas o problema é quando nada acontece; quando a espera é somente uma espera.
Daí começa a indagação de como se descrever o caminho mudo entre dois pontos - essa interseção sem objetivo, esse longo espaço vazio, esse vácuo.

Vácuo.
Era num vácuo eterno que ele se encontrava.
Rodeado por ninguém, a não se por ele mesmo e essa longa faixa de nada.
Vivia ele e seu mundo num mútuo descontentamento constante. De nada.
Descontentamento abstrato e sem nexo. Nexo de nada.
Agora, talvez, ele só deveria buscar palavras para explicar como os dias podem ser pesados - a sensação de se arrastar como uma serpente gorda e pesada num chão atritante. Contudo, essa desestimulante percepção cinza do alheio - que lhe soa perpétua - já não lhe impulsiona o pensar. O pensar é típico dos que buscam novos horizontes. E se não há busca, o pensamento caracteriza-se desnecessário.

Continua então existindo somente este vácuo inesgotável. E esse homem inserido nele, num movimento que não existe. Em uma inércia incalculável pela nossa Física.
E que a Física dele desistiu de entender.

6 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o final, paulitcha!
Saudades dos seus contos!


Beijosss
;**

Fernanda Passos disse...

Um natal e Ano Novo repletos de realizações e força p enfrentar as vicissitudes da vida.

Abraço!
Beijo grande

Manuela disse...

Feliz Natal...

Edna Federico disse...

Feliz 2008, muita saúde e energias boas!
Beijos

Anônimo disse...

oi, Bina!
Excelente entrada de ano pra vc, e sempre pondo em movimento esses pensamentos necessários...

Beijos,

Marcelo Novaes

Natália Nunes disse...

Eu já disse mas repito:

"Tenho a calma de quem age enquanto espera".

Nossa, me citar é estranho o.O
haha.

=*