Mariana não ratificou a Pedro porque achou que não seria necessário. Pois para ela sempre foi sabido que este sentimento é incessante – o ódio jorra como as águas de uma represa em pleno funcionamento. E não adianta que se construam barricadas, porque as águas desse sentimento desenfreado destruir-nas-ão de qualquer modo e sem que seja preciso maiores esforços. O ódio não se cura ou acalma: ele é constante e inexorável. O ódio é puro e é afoito. É verbo intransitivo porque sempre foi claro que ele não precisa de complemento, não precisa de objeto. Odeia-se alguém ou algo, e ponto. O ódio é somente ódio e não se abate ou abrevia. Ele precisa de alguma substância que o sacie. E Pedro não imaginava, mas Mariana gestava dentro do peito esse sentimento nefário. Gestava-o em ordem de sua acessão assim como uma criança que multiplica suas células epiteliais em sentido horizontal desde o momento de sua nascença. O sentimento brotava maior a cada minuto passante. Mariana e o ódio eram agora somente um. Não mais o ódio era para ela um parasita. Os dois agora mantinham entre si uma relação simbiótica. De amor. De reciprocidade. O ódio precisa dela para existir, pois não existe sentimento sem ser humano que o sinta; e ela agora precisava do ódio também, como se necessita de água na secura.
Mariana sentou sobre o chão duro. E ali permaneceu por horas sem fazer questão do tempo. Deixou escapar um risinho. Era notório que ela gostava. Era notório o pequeno prazer que aquilo a causava. Eram notórios os arrepios que subiam pela sua coluna até sua nuca enquanto cogitava. Era notório o quanto aquele sentimento a fazia sentir superior. E ela sabia que aquilo era uma espécie de sacrilégio contra Deus e contra os prédios erguidos pela celulose da madeira e o calcário do cimento, aos quais os fiéis chamam Igreja. Ela sabia ainda mais que era um sacrilégio contra os bons ensinamentos de sua mãe e família. Ela sabia que isso ia de contra a moral cristã, ética, humana e qualquer outro tipo de moral. Mas ela sentia ódio, e o ódio a sentia cada vez mais. Não havia mais sinônimo que pudesse representar a estrutura fixa que os dois formavam. Nem locução. Nem nada.
É bom que não se confunda ódio com ira, pois a ira é um sentimento breve, enquanto o ódio pode durar até uma vida inteira. O ódio é um sentimento de profunda antipatia, desgosto, aversão, raiva, rancor profundo, horror, inimizade ou repulsa contra uma pessoa ou algo. O ódio não é necessariamente irracional. É razoável odiar pessoas que ameaçam ou fazem sofrer, e não há psicologia que se atreva a negar isso.
Enquanto isso Mariana continuava a deixar escapulir risinhos infantis que o ódio que a proporcionava. Coçava a cabeça, olhava pros lados, sorria pro nada. Seus dias passavam com leveza e repletos do prazer infame.
O senso comum a condenaria, como qualquer indivíduo imbuído e empapado de moralismos e discursos prontos.
A verdade é que os dois se apaixonaram, e permaneceram o resto de seus dias juntos. Ele sempre intrínseco a ela, e ela sempre intrínseca a ele.
13 comentários:
Ódio: Do Latim, ODIU;
aversão; raiva; rancor profundo; antipatia; repulsão; horror.
linhas tênues, mas com força de aço, essas são as barreiras do sentimento...Dizem que a fé pode mover montanhas, mas o ódio pode abrir estradas e destruir montanhas inteiras com TNT, não é verdade?
rsrsrs
Beijos
Agradeço a sua passagem no meu cantinho!
O ódio é arma nas nossas entranhas escondida....
Companheiro de gente sofrida...
Bom fim de semana
Eu entendo perfeitamente a Mariana...
Já senti.
Quem não sentiu?
Beijoca.
Menina, como vc escreve ! O ódio existe ,intrínseco ao amor. Vou te linkar .Bj e obrigada pela visita.
E por que n�o? Teria todo o gosto em ler e publicitar :)
Um beijinho
Palavras!
São tantas, são areia
Em praia deserta de encanto
Ocas, vazias, brincadeira
Ditas aos sete ventos
Levianas, geram dor
Com as cores da ternura
Podem dar frutos de amor…
Bom fim de semana
Mágico beijo
Eu nunca senti.
Já senti raiva, muita, mas passou.
É engraçado que o ódio muitas vezes impulsiona mais uma pessoa do que o amor, já reparou?
Quando uma pessoa sente ódio, ela é capaz de fazer tudo, enquanto que sentindo amor, muitas vezes trava.
Tão parecido e tão diverso
fizera eu em verso reverso
da poética prosa tua
Começa assim
E está lá onde já sabes
E chama Em nome do amor:
Vão acusar o poeta porque ama
E não reclama destes tempos
Foscos e insossos no poema
Nossa!
Adorei seu blog.
Diferente de tudo o que eu já vi.
Não sei como cheguei aqui. Visitava vários amigos praticamente ao mesmo tempo e abria alguns comentaristas deles... Deve ter sido numa dessas que abri o seu. Sem querer (ou não).
Está de parabéns.
Vou guardar seu link pra voltar aqui sempre que o tempo me permitir.
Parabéns novamente.
Um beijo e bom domingo.
Ódio, amor, ódio, paixão, ódio, sofrimento, ódio,alegria, ódio, ódio, ódio, cerveja, ódio, intolerância...
Gostei do seu blog!!
muito obrigada pela visita!
devemos usar os bons poderes do coração e acabar com o ódio!
boa semana
Hoje decidi recolher os sussurros da noite
Juntar em alquimia uma lágrima de alegria
Que meu coração recolheu dos teus olhos
E transformou em doce poesia
Nasci mil vezes, para morrer em amor
A contradição é o espelho da loucura
A palavra o começo do silêncio
Que em minha alma perdura
Boa semana
Mágico beijo
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