12.4.07


Queria eu transpirar poesia.

Queria que meus membros se deslocassem somente em prol da melodia da música e meus cabelos oscilassem ao vento, sempre no mesmo ritmo.

Queria existir unicamente para decifrar cada letra dos poemas melancólicos de amor.

Queria ser imprescindível como o ar - inevitável, preciso, subsistente, essencial.

Quiçá ser o próprio ar.

Ah, s’eu pudesse! Olvidaria-me da vida. Assinaria uma declaração de mea culpa, ordenaria as malas e partiria em busca do verso mais magistral.


E se indagassem de mim, mandaria dizer que voei.


*Quadro:

Lien Permanent - Renoir

3 comentários:

Diogo Lyra disse...

Querida Bina:

Os vôos do homem são possíveis. Seu destino, entretanto, é o intraduzível. Os vôos dessa ave inquieta, que desafiam necessariamente nossos cinco sentidos pregados ao chão, não hão de lançá-lo longe. Ao contrário do que se pensa, levam-no tão perto do mistério que, na tentativa desesperada de organizá-lo, no recorrente auxílio ao quíntuplo sensorial, de tão perto perde a noção do todo e, de todo, perde a noção de tudo. Mas continua a tentar. Continua a tentar decifrar. E continua a tentar decifrar com uma peça única de quebra-cabeça. E continua, para todo o sempre, com aquela única peça na mão, sabendo, porém, que detém uma prova.

E o que ela prova, única e exclusivamente, é que não há jeito de decifrá-la. Não há como descrevê-la. Não há como tocá-la. Não há como traduzi-la. Mas há, certamente, como senti-la. Há, por suposto, que mergulhar. Há, sempre há, que absorvê-la. E isso basta. Não ter certeza. Aguardar a próxima vez. Sempre e sempre, com a única peça na mão. A prova absoluta da incerteza e da grandiosidade de se saber pequeno, da possibilidade de sonhar, levantar vôo e pisar no firmamento.

E assim vive-se como uma verdadeira poesia...

Anônimo disse...

Hm, que bonito!!
Eu tambem queria!
E já pensei parecido, mas nao de uma forma tao poética, até pq eu mal sei fazer assim ;)
hehe

Tadeu Ribeiro disse...

Ordene aos empregados que levem minhas malas junto!