26.3.07

Entre mim e a escada



A escada estava lá. E eu também. Havia alguma coisa entre mim e a escada. Alguma magia, naquela escada. Sentei. Observei. A inércia, o não-movimento daquela bendita escada. Não saía, não se movia, não balançava, mas causava algum sentimento. O medo. O medo de estar em cima e olhar para baixo. O medo da escada. O medo de se envolver demais na magia de subir e talvez balançar e cair. O estranho silogismo do ser - eu ser humano, ela ser escada. É preciso refletir. É preciso refletir se é desejado mesmo subir, pois o tombo é possivelmente possível. O sentimento do medo muitas vezes é bom, pois nos resguarda do “talvez”, que goza de um lado bom, mas também de um lado ruim. O medo nos protege. Nos acolhe. Nos acarinha no canto seguro da sala.


A escada parada, e eu também. Imóveis. Inertes. Intocável era o vazio entre mim e ela. A respiração lenta, quase parando... Respira, respira. Devagar. O ar. Devagar. Eu olho e admiro a imponência da mesma, que pode me levar para o Céu ou me jogar ao inferno. Que quer ela de mim? Aquele ar pesado que nos separava começava a me sufocar. É preciso coragem. É preciso enfrentar. A escada. Enfrentar a escada. Vou subir.


E subi. Subi um degrau. Subi dois degraus. O terceiro. O quarto. O quinto. O sexto. E ela parada. O sétimo. E ela parada. O oitavo. Meu Deus - o nono.


Décimo! Cheguei.



Troquei a lâmpada.




"Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.

Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo..."

Mário Quintana

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