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Depois do anúncio, o choque. As mãos se posicionaram simultaneamente até a cabeça, de forma a segurá-la e evitar um possível remelexo, devido à violência proveniente do que fora ouvido. E as mãos seguraram com força. A boca se deixou abrir em esfera, conjunto aos músculos abdominais, que se contraíram denodos numa fúria interior, na tentativa – talvez - de empurrar para o lado de fora todo o susto e agonia gerados no lado de dentro. E suas tripas, síncronas com todo seu âmago, largaram na atmosfera o som mais estridente e mais lancinante que poderia ser ouvido por qualquer ser orgânico. Sua conturbação e assombramento se derretiam pelo seu olhar, escorrendo intrínsecos a uma secreção límpida, incolor e salgada, produzida pelas suas glândulas lacrimais.
Sofia caiu ao chão, de joelhos, desta vez com suas mãos unidas frente ao seu corpo, em sinal de reza, e deixou sua cabeça pender levemente para cima. Deixou seu pulmão absorver mais um pouco de oxigênio (como se fizesse diferença) e reunindo tudo o que ainda se encontrava dentro dela, expulsou de si mesma mais uma vez um grito ardido de dor, que se assemelhava mais a um uivo de melancolia extrema, porém desta vez menos alto que o primeiro, mas que representava claramente mais uma tentativa de expelir a dor que pungia internamente; uma tentativa de empurrar para fora aquele sentimento que provocava-lhe fisgadas incessantes.
Pela primeira vez na vida deve ter sentido o efeito de fato da gravidade terrestre que puxa todos os corpos para o centro da Terra, pois cada vez mais suas costas se curvavam e seu corpo se atraía pelo chão. Seria melhor que todo ele, talvez, adentrasse no meio daquela terra.
E assim ela ia, num movimento sutil, indolente e preguiçoso, se unindo àquela terra seca e indiferente, encostando cada parte de seu corpo nos grãos arredondados, adubando-os com suas secreções salivares, lacrimais e sudoríparas.
Pediu perdão a si mesma.
Deve ter pedido pelo menos cem vezes.
Recostou-se por completo no solo rígido e ali permaneceu, quase beijando o chão e engolindo suas bactérias.
Dormiu por horas.
22 comentários:
Estar estarrecido consigo mesmo pode ter o efeito de um apocalipse.
Adoro quando escreves este tipo de texto, pois tens uma forma de o fazer que quase torna palpáveis os sentimentos descritos...
Um beijo.
Estou boquiaberto...Hehehehe... Não conseguirei descrever com tantas minúcias minha admiração pelo que escreves...Bjão
que coisa boa...
texto muito bom, suado, quente.
Parabéns!
FORTE! É a palavra que sintetiza o texto na minha opinião. parabéns, minha linda! Talento demais.
Texto com muito dramatismo...que revela muitos sentimentos complexos...Obrigada pelos conselhos amiga.
Bina, n é a toa que adora dicionário.
Vc trabalha muito bem com as palavras. texto excelente.
bj.
fico tentando imaginar o que Sofia fez a si mesma...
Muito bom, instigante!
Beijo
Mágnifico texto...escrever assim merece outro suporte...
doce beijo
depois dessa tem que dormir mesmo.
bom final de semana!
Passei para te deixar um feitiço...
Tens uma prenda para ti no meu blog...não te esqueças de fazer o trabalho que recomendo...beijo
Adorei o texto!!
beijo
e boa semana
você e os teus contos Bina...Contando e encantando(acho que não era bem esse o contexto, mas eu achei interessante usá-lo hehehe)
Beijos
já li por aqui que é forte.. e sou da mesma opiniao.. :)
beijinhos *
Adorei a intensidade das palavras.
beijos...
Que incrível descrição de desespero, agonia e dor!
Muito bom!
Beijos!
Tens um convite para ti no meu blogue. beijo
Confesso que fiquei sufocada e angustiada com esse texto ... mas amei !!!
Apareça mais vezes lá no blog.
Bjs, R!
Olá tentei achar seu msn em todo lugar e nao consegui, poderia posta-lo aki para eu falar com vc?
Beijos
miss_clare@hotmail.com
Venci Bina, venci!!!
Mais detalhes em meu blog
beijos
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